segunda-feira, 2 de maio de 2011

Seguindo Cronos

O tempo é um senhor misterioso. Ao mesmo tempo em que nos pede paciência para alcançarmos nossos objetivos, ele muda de ideia subitamente e vira nossas vidas do avesso com um único ato. É como se ele tentasse nos ensinar uma certa "flutuação" entre a estabilidade e o movimento. Talvez seja melhor falar em flexibilidade, uma sutil alternância das duas situações, da qual os mais antenados poderão tirar bom proveito (normalmente, quem o faz são os videntes ou os bons corretores da Bolsa...).
Apesar disso, nós, humanos normais, costumamos ter muito apego a determinadas situações e/ou pessoas. Fácil perceber que daí vem todo o sofrimento em decorrência das perdas várias que sofremos ao longo da vida. Só que o velho Cronos quer apenas ensinar que vivemos num mundo transitório, que um dia acaba, seja com a nossa morte (ou dos outros), seja com o fim de uma determinada estrutura ou modo de vida.
Não acompanhar Cronos resulta em não acompanhar o fluxo da vida, o que, por tabela, nos transforma em velhos antecipados. Às vezes eu tenho medo de não conseguir ficar up to date. Até que estou conseguindo, mesmo tendo passado dos trinta, acompanhar as novas. Mas, conforme vou envelhecendo, vou também percebendo uma tendência maior para achar mais legal o que rolava na minha adolescência e até uns dez anos atrás em termos de cultura e comportamento.
Isso me apavora. Lembro daqueles velhos que ficam xingando tatuagens e decotes em bancos de praça. Mesmo assim, já me peguei falando que:
- não haverá time do São Paulo como o campeão de 1991-1992 (embora tenhamos sido campeões mundiais mesmo depois desse time brilhante)
- será que vai ter outra década tão legal quanto os 80's, ressalvado o começo dos 90's? (embora tenha acontecido muita coisa interessante de quinze anos pra cá)
- quem vai substituir o Rubem Fonseca e o Saramago, ó pá? (Ainda não sei, mas é preciso ter fé)
Acho que o antídoto perfeito para essas bobagens é estudar História. Pelo menos pra mim funciona, porque ela fornece uma visão mais objetiva do movimento das coisas - civilizações, personalidades, estruturas econômicas e políticas. Até o meu objeto de estudo, a língua, muda mais do que as gramáticas pensam.
Se todas essas coisas mudam, porque nossa vidinha, tão pequeninha perante tudo isso, não iria mudar? Por outro lado, não podemos nos soltar a ponto de cairmos no extremo oposto do apego, a não fixação em coisa alguma - o que nos impede de levar adiante grandes projetos.
Seguir conforme as sutilezas do tempo, portanto, é uma arte um tanto quanto complexa. Quem sabe o passar do mesmo tempo me ensine um pouco mais sobre ela...

2 comentários:

Marília Gessa disse...

Vc já leu o Valter Hugo Mãe? Ele ganhou o prêmio Saramago. Aliás, o próprio Saramago o descreveu como um tsunami literário. A metáfora logo me fez lembrar d'O Prazer do Texto do Barthes. Um autor que invade o seu corpo como um tsunami deve ser coisa boa. Mas eu, honestamente, ainda não li. Os livros dele estão muuuuito caros no BR. E ele estará na FLIP.

Unknown disse...

Num li não... Mas fica a dica. Quem sabe o livro barateia pela época da Flip... Bjs