terça-feira, 24 de maio de 2011

I'm going through changes

Ah, as mudanças de lifestyle. Elas são interessantes para exercitarmos o olhar crítico sobre o que acontece com a gente. As mudanças abruptas são melhores ainda, porque os fatos ficam ainda mais descarados!
Maio foi um mês altamente abençoado, pois reconheci que muita coisa estava errada na minha vida, em relação às pessoas ao redor, à comunidade, a mim mesma. Parece que tudo se resolveu como num processo judicial, e estou na posição da ré que confessa.
Dois exemplos meio óbvios a seguir, que dão uma ideia da situação desta que vos fala.

1. Fazia muito tempo que eu não andava de metrô. Todo santo dia pegava o carro. E "deixava para amanhã" (leia-se: para quando Deus quisesse) a consideração sobre questões ambientais, o nervosismo acumulado de pegar trânsito e o preço do combustível, por pura preguiça. Só faltava levantar o argumento da gente diferenciada.
- Defesa da pessoa para viver motorizada: "faço muitas coisas em lugares muito longe um do outro".
- Réplica dos fatos: o metrô está a dois quarteirões de casa. E os únicos lugares que frequento para os quais não vale a pena ir de metrô (ou não dá pra ir) são a USP e a região de Campinas.
- Confissão: só de ver o quanto eu tava gastando de gasolina já me empolgou pra pegar mais metrô! Claro que ajuda o fato de eu ter uma liberdade maior de horário para poder calcular a hora menos tensa para pegar o coletivo. Mas, mesmo quando precisei encarar o rush, o fiz numa boa. (É bom ressaltar que estou numa vibe meio "what, me worry?".)

2. Gorda! O espelho não mente nunca - aliás, ele é tão sincero que dói. Como tantos outros doidos por aí, cuidar do corpo era uma consideração distante que tinha esse efeito colateral deletério da autoestima e das roupas legais, que estavam ficando apertadas.
- Defesa: "nunca dá tempo de ir pra academia".
- Réplica: dá, sim, se você quiser. Aliás, exercício não precisa nem ser na academia. Basta um tênis, uma roupa confortável e disposição. E você não tá vendo que a ansiedade acumulada tá fazendo você comer o triplo?
- Confissão: agora é de lei caminhar duas vezes por semana, por uma hora. Peguei uns livros antigos de ioga, mais o blog de um professor indiano muito bom que eu já seguia, e tô praticando em casa. Também resolvi encarar uma drenagem pra acelerar o processo de "desmanche" da banha. Resultado: já tenho calça folgada! E descarregar a tensão ficou mais fácil depois de encarar com mais seriedade exercícios de meditação toda noite. Isso também tem me ajudado na concentração para levar adiante meus atuais afazeres.

Tive outros benefícios indiretos, de coisas para as quais eu nunca prestei muita atenção, mas que agora me divertem. Devo dizer que minha atual rotina permite que eu troque a cor da unha duas vezes por semana, passe um tempo tomando sol de manhã, trabalhe bastante (mais do que antes, até) e tenha o raciocínio mais claro para escrever a dissertação de mestrado. Tudo isso cabe em 24 horas (sendo que oito delas eu passo dormindo!). Parece mentira, mas não é.

E, obviamente, as pessoas ao meu redor estão levando menos porrada e suportando menos mau humor da minha parte. Efeitos colaterais inesperados nas relações sociais. Que coisa, não?

Fiquei me perguntando bastante por que não fiz isso antes. Mas as coisas vêm a seu tempo. O mestre não chega enquanto o discípulo não está pronto, enquanto a consciência não está aberta.

Não resta muito a fazer, a não ser curtir essa abertura de consciência. Uhu!

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Linguista curte português "errado"?

Galera, texto que saiu no Terra, da autoria de Sírio Possenti, e que bate com a minha opinião sobre a relação entre os linguistas e a polêmica do livro de português com erro. (Não aguento mais ouvir dizer que linguista é louco!)

ACEITAM TUDO

De vez em quando, alguém diz que linguistas "aceitam" tudo (isto é, que acham certa qualquer construção). Um comentário semelhante foi postado na semana passada. Achei que seria uma boa oportunidade para tentar esclarecer de novo o que fazem os linguistas.
Mas a razão para tentar ser claro não tem mais a ver apenas com aquele comentário. Surgiu uma celeuma causada por notas, comentários, entrevistas etc. a propósito de um livro de português que o MEC aprovou e que ensinaria que é certo dizer Os livro. Perguntado no espaço dos comentários, quando fiquei sabendo da questão, disse que não acreditava na matéria do IG, primeira fonte do debate. Depois tive acesso à indigitada página, no mesmo IG, e constatei que todos os que a leram a leram errado. Mas aposto que muitos a comentaram sem ler.
Vou tratar do tal "aceitam tudo", que vale também para o caso do livro.
Primeiro: duvido que alguém encontre esta afirmação em qualquer texto de linguística. É uma avaliação simplificada, na verdade, um simulacro, da posição dos linguistas em relação a um dos tópicos de seus estudos - a questão da variação ou da diversidade interna de qualquer língua. Vale a pena insistir: de qualquer língua.
Segundo: "aceitar" é um termo completamente sem sentido quando se trata de pesquisa. Imaginem o ridículo que seria perguntar a um químico se ele aceita que o oxigênio queime, a um físico se aceita a gravitação ou a fissão, a um ornitólogo se ele aceita que um tucano tenha bico tão desproporcional, a um botânico se ele aceita o cheiro da jaca, ou mesmo a um lingüista se ele aceita que o inglês não tenha gênero nem subjuntivo e que o latim não tivesse artigo definido.
Não só não se pergunta se eles "aceitam", como também não se pergunta se isso tudo está certo. Como se sabe, houve época em que dizer que  a Terra gira ao redor do sol dava fogueira. Semmelweis foi escorraçado pelos médicos que mandavam em Viena porque disse que todos deveriam lavar as mãos antes de certos procedimentos (por exemplo, quem viesse de uma autópsia e fosse verificar o grau de dilatação de uma parturiente). Não faltou quem dissesse "quem é ele para mandar a gente lavar as mãos"?
Ou seja: não se trata de aceitar ou de não aceitar nem de achar ou de não achar correto que as pessoas digam os livro. Acabo de sair de uma fila de supermercado e ouvi duas lata, dez real, três quilo a dar com pau. Eu deveria mandar esses consumidores calar a boca? Ora! Estávamos num caixa de supermercado, todos de bermuda e chinelo! Não era um congresso científico, nem um julgamento do Supremo!
Um lingüista simplesmente "anota" os dados e tenta encontrar uma regra, isto é, uma regularidade, uma lei (não uma ordem, um mandato).
O caso é manjado: nesta variedade do português, só há marca de plural no elemento que precede o nome - artigo ou numeral (os livro, duas lata, dez real, três quilo). Se houver mais de dois elementos, a complexidade pode ser maior (meus dez livro, os meus livro verde etc.). O nome permanece invariável. O lingüista vê isso, constata isso. Não só na fila do supermercado, mas também em documentos da Torre do Tombo anteriores a Camões. Portanto, mesmo na língua escrita dos sábios de antanho.
O lingüista também constata the books no inglês, isto é, que não há marca de plural no artigo, só no nome, como se o inglês fosse uma espécie de avesso do português informal ou popular. O lingüista aceita isso? Ora, ele não tem alternativa! É um dado, é um fato, como a combustão, a gravitação, o bico do tucano ou as marés. O lingüista diz que a escola deve ensinar formas como os livro? Esse é outro departamento, ao qual volto logo.
Faço uma digressão para dar um exemplo de regra, porque sei que é um conceito problemático. Se dizemos "as cargas", a primeira sílaba desta sequência é "as". O "s" final é surdo (as cordas vocais não vibram para produzir o "s"). Se dizemos "as gatas", a primeira sílaba é a "mesma", mas nós pronunciamos "az" ? com as cordas vocais vibrando para produzir o "z". Por que dizemos um "z" neste caso? Porque a primeira consoante de "gatas" é sonora, e, por isso, a consoante que a antecede também se sonoriza. Não acredita? Vá a um laboratório e faça um teste. Ou, o que é mais barato, ponha os dedos na sua garganta, diga "as gatas" e perceberá a vibração. Tem mais: se dizemos "as asas", não só dizemos um "z" no final de "as", como também reordenamos as sílabas: dizemos as.ga.tas e as.ca.sas, mas dizemos a.sa.sas ("as" se dividiu, porque o "a" da palavra seguinte puxou o "s/z" para si). Dividimos "asas" em "a.sas", mas dividimos "as asas" em a.sa.sas.
Volto ao tema do lingüista que aceitaria tudo! Para quem só teve aula de certo / errado e acha que isso é tudo, especialmente se não tiver nenhuma formação histórica que lhe permitiria saber que o certo de agora pode ter sido o errado de antes, pode ser difícil entender que o trabalho do lingüista é completamente diferente do trabalho do professor de português.
Não "aceitar" construções como as acima mencionadas ou mesmo algumas mais "chocantes" é, para um lingüista, o que seria para um botânico não "aceitar" uma gramínea. O que não significa que o botânico paste.
Proponho o seguinte experimento mental: suponha que um descendente seu nasça no ano 2500. Suponha que o português culto de então inclua formas como "A casa que eu moro nela mais os dois armário vale 300 cabral" (acho que não será o caso, mas é só um experimento). Seu descendente nunca saberá que fala uma língua errada. Saberá, talvez (se estudar mais do que você),  que um ancestral dele falava formas arcaicas do português, como 300 cabrais.
Outro tema: o linguista diz que a escola deve ensinar a dizer Os livro? Não. Nenhum lingüista propõe isso em lugar nenhum (desafio os que têm opinião contrária a fornecer uma referência). Aliás, isso não foi dito no tal livro, embora todos os comentaristas digam que leram isso.
O lingüista não propõe isso por duas razões: a) as pessoas já sabem falar os livro, não precisam ser ensinadas (observe-se que ninguém fala o livros, o que não é banal); b) ele acha - e nisso tem razão - que é mais fácil que alguém aprenda os livros se lhe dizem que há duas formas de falar do que se lhe dizem que ele é burro e não sabe nem falar, que fala tudo errado. Há muitos relatos de experiências bem sucedidas porque adotaram uma postura diferente em relação à fala dos alunos.
Enfim, cada campo tem seus Bolsonaros. Merecidos ou não.

PS 1 - todos os comentaristas (colunistas de jornais, de blogs e de TVs) que eu ouvi leram errado uma página (sim, era só UMA página!) do livro que deu origem à celeuma na semana passada. Minha pergunta é: se eles defendem a língua culta como meio de comunicação, como explicam que leram tão mal um texto escrito em língua culta? É no teste PISA que o Brasil, sempre tem fracassado, não é? Pois é, este foi um teste de leitura. Nosso jornalismo seria reprovado.
PS 2 - Alexandre Garcia começou um comentário irado sobre o livro em questão assim, no Bom Dia, Brasil de terça-feira: "quando eu TAVA na escola...". Uma carta de leitor que criticava a forma "os livro" dizia "ensinam os alunos DE que se pode falar errado". Uma professora entrevistada que criticou a doutrina do livro disse "a língua é ONDE nos une" e Monforte perguntou "Onde FICA as leis de concordância?". Ou seja: eles abonaram a tese do livro que estavam criticando. Só que, provavelmente, acham que falam certinho! Não se dão conta do que acontece com a língua DELES mesmos!!

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Não, não vou comentar o Metrô Higienópolis nem o terremoto que era pra ser em Roma e foi na Espanha.


O texto abaixo foi enviado pela minha amiga Marília, mestranda em Letras como eu, e me deixou bastante passada. URL para quem se interessar:  http://www.baguete.com.br/colunistas/colunas/31/janer-cristaldo/11/05/2011/a-armadilha-dos-doutorados


"A armadilha dos doutorados
Janer Cristaldo - quarta-feira, 11/05/2011 - 18:10
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Em 2005, a Capes previa investir R$ 3,26 bilhões para aumentar o número de doutores por ano no Brasil. O Plano Nacional de Pós-Graduação apresentado ao então ministro da Educação, Tarso Genro, propunha a aplicação nos seis anos seguintes de R$ 1,66 bilhão a mais em bolsas e fomento de pós-graduação, o que permitiria passar dos 8.000 doutores titulados por ano para 16 mil em 2010. O plano “será acolhido integralmente", disse Genro na ocasião.
Se foi acolhido integralmente, não sei. Na época, aqui no Baguete, falei da desmoralização do título de Doutor que, entre nós, se deve à universidade brasileira, ao distribuir doutorados a torto e a direito, como quem joga milho aos porcos. Não faltou quem protestasse. Que quem jogava milho aos porcos era a universidade francesa, com seus diversos doutorados, o Dr. Ingénieur, o Doctorat d’Université, o Doctorat de IIIe Cycle e o famigerado Doctorat d’État. Pode ser.
O missivista considerava que o único doutorado francês válido seria o Doctorat d’État. “Um doutorado na França é conhecido por doctorat d’Estat (sic!) e esse sim é equivalente o doutorado no Brasil. Lá existem vários tipos de doutorado, a maioria pode ser realizada em no máximo dois anos, à exceção do doctorat d’Estat (resic!), cuja duração é equivalente aos dos outros países – uns cinco anos. Quase todos os nossos intelectuais de esquerda fizeram um curso Troisiéme Cycle na França e se dizem doutores".
O ilustre especialista em doutorados – que escreveu sob pseudônimo – sequer sabia redigir corretamente a designação do título. Também ignorava que o Doctorat de IIIe Cycle se faz em quatro – eventualmente cinco – anos e que o famigerado doctorat d’Estat, como ele grafava , era feito em dez ou mais anos. O Doctorat de IIIe Cycle sempre foi reconhecido como doutorado em todos os países europeus. O d’État era tido como mais uma bizarrice dos galos.
Distorção da universidade francesa, servia como placebo ao desemprego, ao mesmo tempo que mantinha o doutorando afastado por uma boa década do mercado de trabalho. O candidato ao título desenvolvia teses monumentais, às vezes de quatro ou cinco volumes, que nem mesmo a banca julgadora lia na totalidade. Tais calhamaços ficavam entregues às traças e à poeira nas bibliotecas e a universidade francesa sequer percebia que delas poderia tirar algum lucro. Exportando para a Holanda, por exemplo, para fazer diques. O governo Mitterrand tomou consciência desta perversão acadêmica e a extinguiu. Agora existe apenas Doctorat, tout court.
Há horas venho afirmando que os doutorados são uma solene inutilidade. Ou melhor, uma armadilha acadêmica. Você faz um curso universitário e desemboca no desemprego. Para capear a adversidade, você se inscreve em mestrado. Mais quatro anos afastado do mercado de trabalho. Conclui o mestrado e de novo vê o breu pela frente. Seu professor, que precisa de doutorandos para cumprir sua carga horária enquanto folga em casa ou no Exterior, o convida para um doutorado. Você aceita, afinal está desempregado e a bolsa não é de se jogar fora. Mais quatro ou cinco anos fora do mercado.
Quando você vai ver, tem mais de trinta anos e nunca teve carteira de trabalho assinada. Em um país onde se tende a considerar que uma pessoa com 35 anos já é idosa, ou você tem pistolão na guilda e entra no magistério – para que a poleia sem fim dos doutorados continue rodando – ou vai talvez dirigir um táxi ou ser corretor de imóveis. Afinal, comer é preciso.
Isso sem falar no que chamei de mestrandos carecas. Entre as muitas anomalias da universidade brasileira estão os mestrandos quarentões. Aquela iniciação à pesquisa, pela qual o candidato deveria optar tão logo terminasse o curso superior, é adiada para uma idade em que do acadêmico já se espera obra consolidada. Pior mesmo, só os doutorados de terceira idade. Marmanjos de cinqüenta e mais anos, em idade de aposentar-se, postulando um título que só vai servir para pendurar junto com as chuteiras.
Mestrado não é para carecas. Já um doutorando, este deveria defender sua tese no máximo aos trinta e poucos, para que sua experiência em pesquisa possa ser útil ao ensino e à sociedade. Que mais não seja, é patético ver um homem já maduro humilhando-se, ao tentar iniciar-se em metodologias que devia desde jovem dominar. Isso sem falar em métodos que não passam de masturbação acadêmica, como ocorre na área das ditas Humanas. Na universidade brasileira, o doutorado nem sempre é visto como início de uma carreira, mas como louro a coroar a calva do acadêmico quando este está prestes a usar pijamas. Quem paga tais vaidades senis? Como sempre, o contribuinte.
Pelo jeito, os acadêmicos começam a se dar conta desta catástrofe. Acabo de receber artigo de Mark C. Taylor, presidente do departamento de religião da Universidade de Columbia em Nova York e autor de Crise no Campus: um plano arrojado para reforma das nossas Faculdades e Universidades (Knopf, 2010). Em seu ensaio, o professor considera que o sistema de doutorado nos Estados Unidos e em muitos outros países é insustentável e precisa de ser remodelado. Em muitos campos, ele cria apenas uma fantasia cruel de um futuro emprego, que promove o auto-interesse dos membros do corpo docente, em detrimento dos estudantes. A realidade é que existem poucos empregos para as pessoas que gastaram até doze anos em sua formação.
“A maioria dos programas de educação-doutoramento está em conformidade com um modelo definido nas universidades européias durante a Idade Média, em que a educação era um processo de clonagem, que treinava os estudantes para fazer o que os seus mentores faziam. Os clones já ultrapassam o número de seus mentores. O mercado de trabalho acadêmico entrou em colapso em 1970 e as universidades ainda não se ajustaram as suas políticas de admissão, porque precisam de estudantes de graduação para trabalhar nos laboratórios e como assistentes de ensino. Mas uma vez que os alunos terminam o ensino, não existem trabalhos acadêmicos para eles.
Para o professor Taylor, só há duas saídas: reformar radicalmente os programas de doutoramento ou fechá-los. “A especialização levou a áreas de investigação tão estreitas que são de interesse apenas para outras pessoas que trabalham nos mesmos domínios, subcampos ou sub-subcampos. Muitos pesquisadores lutam para conversar com colegas do mesmo departamento, e comunicação entre departamentos e disciplinas podem ser impossíveis".
A bicicleta precisa continuar rodando. Milhões de teses no mundo todo, que já não cabem nas bibliotecas oficiais, precisam de anexos para serem guardadas. Guardadas para quê? Para juntar pó. Uma tese é algo que sai caro ao Estado. É preciso subsidiar os graduandos e os professores que os orientam. Deveria ter retorno aos contribuintes que, no fundo, são quem as financiam. Você já viu alguma tese publicada? Às vezes encontramos alguma, mas precisamos pagar por ela. O doutor recebe para redigi-la e depois cobra de novo para que seja lida.
Se o Brasil eliminasse hoje seus cursos de doutorado, não me parece que perderíamos grande coisa. (Vou mais longe: cursos de Letras, Filosofia ou Sociologia não fazem falta alguma). Os professores americanos parecem estar despertando para o problema. Como o Brasil adora importar modas ianques, seria salutar que esta postura chegasse até nós.
Mas não vai chegar. O Brasil prefere importar rock, blockbusters e outras mediocridades do Primeiro Mundo. Do melhor que acontece lá, Pindorama só quer distância.
PS – O artigo do professor Mark Taylor pode ser lido na íntegra emhttp://www.nature.com/news/2011/110420/full/472261a.html"



O que não falta é argumento pra retrucar (e eu já os expus num comentário que, duvido, vá ser aceito pela moderação do tal blog). Basicamente, escrevi para o tio nos termos abaixo.


Se letras, sociologia e filosofia não são importantes a ponto de merecer um doutorado, vamos assistir, sucessivamente, a:
- uma piora grotesca na situação já dramática do ensino da língua portuguesa;
- um desconhecimento ainda maior do funcionamento da sociedade e das relações entre as pessoas;
- ainda mais desprezo por questões que fogem ao cotidiano materialista e "televisivo" de grande parte da nossa população.

E, se carteira assinada é atestado de sucesso de alguém, ou da capacidade dessa pessoa para conseguir emprego, estamos desmentindo não só a capacidade da mesma pessoa como também deixando de lado empreendedores, inventores, artistas e criadores em geral. Aliás, muitas empresas ficam de olho em talentos que saem da pós-graduação de alguns cursos.



Num é? O que vocês acham? Tô certa? Ou sou só uma pós-graduanda em Letras com o orgulho ferido (rs)?

terça-feira, 10 de maio de 2011

Que divertida aquela "Marcha das Vagabundas" no Canadá. Rolei de rir só com o nome.

Mas a motivação da tal marcha dá o que pensar. Pena que, mesmo nestes tempos supostamente mais tranquilos em termos de costumes sexuais e de reabilitação da imagem feminina, temos de ouvir que o problema do assédio sexual é motivado pela forma de se vestir!

Claro que a mulher que sai na rua de roupa muito curta se sujeita a ouvir aquelas cantadas de pedreiro e outras coisas do tipo. Mas isso acontece porque ainda tem muito machismo subjacente na nossa cultura (e que as próprias mulheres colaboram para propagar!).

Vem a comparação inevitável com o fato de que homens podem andar só de bermuda numa boa. Em algumas tribos da África e da Oceania - para não falar em algumas tribos dos nossos índios -, a mulherada anda com os peitos de fora e isso é perfeitamente admissível socialmente. Isso, para mim, prova que o lance de a roupa curta ser um "estimulante sexual" é uma noção puramente cultural, entranhada por gerações na cabeça dos homens. Ainda é preciso todo um trabalho de equiparação da condição feminina à masculina em níveis mais profundos da consciência humana.

E ninguém tem nada a ver com a vontade de alguém de se vestir dos pés à cabeça. A França resolveu proibir as muçulmanas de usar lenço, burca e afins se assim o quiserem. Como se o padrão ocidental fosse o único possível no mundo...
 

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Sóis

Hoje vi aquelas fotos do Sol maravilhosas, mostrando o poder e a força daquele astro. Parou pra pensar no que seria de nós sem ele? A Terra e os outros planetas do Sistema Solar são meros "anexos" que dependem de todo aquele poder. Ao mesmo tempo, ele não poderia ser poderoso sem que isso tivesse alguma utilidade - no caso, sustentar os planetas. Nada na Natureza existe sem uma lógica.
Falar do Sistema Solar me lembrou de uma máxima sempre exaltada pelos antigos, segundo a qual "assim como está em cima, está também embaixo". A conclusão a que se chega a partir dela, segundo os intérpretes, é de que o Sistema Solar é apenas um modelo em tamanho gigante para outros sistemas menores.
Quais sistemas menores? De cara penso em cada um de nós como um solzinho particular, cercado de pessoas-planeta, coisas-planeta e situações-planeta. Como as pessoas-planeta podem ser sóis também, cria-se uma grande rede, interligada pelas relações criadas por essas posições.
Ser sol é uma responsabilidade imensa. Já que somos dotados de uma parcelinha do poder divino, temos a obrigação de fazer esse poder aparecer - esse é o hidrogênio que temos de queimar para brilhar e emanar calor para os nossos planetas. Família, amigos, amado (ou amada, conforme o caso). Eles estão esperando por isso. Por isso é que às vezes nos cobram tanto pela falta de atenção que lhes votamos.
Daí vem a pergunta inevitável sobre como fazer para brilhar. Acho eu que estar de bem consigo mesmo traz, como consequência lógica, o brilho e faz com que voltemos a nossa atenção para os planetas. Ao mesmo tempo, como a alegria é contagiosa, para mim é inevitável que um Sol alegre tenha planetas alegres.
E como faz para ficar de bem consigo mesmo? Hahahaha, esse post corre o risco de ficar igual à História sem Fim com tantas perguntas. Eu não sei, não. O pedacinho divino dentro de cada um é que vai responder. Pergunta pra ele!
Também não me perguntem sobre o salão de beleza frequentado pelo Sol. Não faço ideia, mas parece que é dos muito bons. (Se é que precisou de maquiagem - leia-se Photoshop...)

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segunda-feira, 2 de maio de 2011

Seguindo Cronos

O tempo é um senhor misterioso. Ao mesmo tempo em que nos pede paciência para alcançarmos nossos objetivos, ele muda de ideia subitamente e vira nossas vidas do avesso com um único ato. É como se ele tentasse nos ensinar uma certa "flutuação" entre a estabilidade e o movimento. Talvez seja melhor falar em flexibilidade, uma sutil alternância das duas situações, da qual os mais antenados poderão tirar bom proveito (normalmente, quem o faz são os videntes ou os bons corretores da Bolsa...).
Apesar disso, nós, humanos normais, costumamos ter muito apego a determinadas situações e/ou pessoas. Fácil perceber que daí vem todo o sofrimento em decorrência das perdas várias que sofremos ao longo da vida. Só que o velho Cronos quer apenas ensinar que vivemos num mundo transitório, que um dia acaba, seja com a nossa morte (ou dos outros), seja com o fim de uma determinada estrutura ou modo de vida.
Não acompanhar Cronos resulta em não acompanhar o fluxo da vida, o que, por tabela, nos transforma em velhos antecipados. Às vezes eu tenho medo de não conseguir ficar up to date. Até que estou conseguindo, mesmo tendo passado dos trinta, acompanhar as novas. Mas, conforme vou envelhecendo, vou também percebendo uma tendência maior para achar mais legal o que rolava na minha adolescência e até uns dez anos atrás em termos de cultura e comportamento.
Isso me apavora. Lembro daqueles velhos que ficam xingando tatuagens e decotes em bancos de praça. Mesmo assim, já me peguei falando que:
- não haverá time do São Paulo como o campeão de 1991-1992 (embora tenhamos sido campeões mundiais mesmo depois desse time brilhante)
- será que vai ter outra década tão legal quanto os 80's, ressalvado o começo dos 90's? (embora tenha acontecido muita coisa interessante de quinze anos pra cá)
- quem vai substituir o Rubem Fonseca e o Saramago, ó pá? (Ainda não sei, mas é preciso ter fé)
Acho que o antídoto perfeito para essas bobagens é estudar História. Pelo menos pra mim funciona, porque ela fornece uma visão mais objetiva do movimento das coisas - civilizações, personalidades, estruturas econômicas e políticas. Até o meu objeto de estudo, a língua, muda mais do que as gramáticas pensam.
Se todas essas coisas mudam, porque nossa vidinha, tão pequeninha perante tudo isso, não iria mudar? Por outro lado, não podemos nos soltar a ponto de cairmos no extremo oposto do apego, a não fixação em coisa alguma - o que nos impede de levar adiante grandes projetos.
Seguir conforme as sutilezas do tempo, portanto, é uma arte um tanto quanto complexa. Quem sabe o passar do mesmo tempo me ensine um pouco mais sobre ela...