domingo, 27 de março de 2011

O Eduardo tem grudada na parede do quarto a seguinte frase de Jung: "Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, acorda". Não parece nada mais do que aquele velho aforisma do "conhece-te a ti mesmo", expandida. Mas ela é importantíssima, considerando que vivemos num mundo em que, o tempo todo, estamos sendo puxados para fora de nós, para vivermos hipnotizados, numa vida de sonho.
Já é meio chavão ficar repetindo que estamos numa sociedade de consumo, que somos marionetes de um sistema podre etc. Mas, ao mesmo tempo em que escutam isso o tempo todo, as pessoas acham bonitinho e não movem uma palha pra fazer diferente.
Porém, é preciso considerar também que olhar para dentro é um processo difícil; quase que automaticamente, apagamos da consciência o fato de que somos suscetíveis a praticar atos maldosos, à fragilidade, à contestação de nossos credos. Por causa disso, terapias são, frequentemente, processos dolorosos. Mas, passado o impacto inicial, parece que entramos num acordo conosco, e entendemos o processo que nos leva a ter certos comportamentos.
Não adianta botar a culpa dessa falta de self-knowledge no computador e na internet, falar o tempo todo para o povo ficar sem computador num dia, de forma a olharem mais para dentro delas. As pessoas não compreendem; elas vão apenas praticar por conta da influência da mídia (e porque fica bonitinho falar que fez isso para os amigos avant-garde). Aliás, pode ser que a sua missão na vida seja mesmo ficar o dia inteiro na frente do computador, seja escrevendo, seja compilando informação, seja criando programinhas e apps.
(Em off: cá para nós, todos esses pedidos politicamente corretos generalistas são um saco, não? Que adianta "hora do planeta" se as pessoas não têm consciência da importância de se economizar energia no resto do ano? Fecha parênteses.)
Os responsáveis por essa tragédia humana do "estar fora de si" são muitos e já aparecem desde os tempos mais primórdios, como diriam Hermes e Renato. Sim, são os que você está pensando. Nem precisa contar, né? Basta remexer o miolo de volta à sua aula de História.
E não há fórmula pronta para voltar para si. O que não falta por aí são métodos e propostas (que bom que a gente vive nesta época!). De repente, basta apenas fazer como Benjamin Franklin, que anotava tudo o que tinha feito no dia para avaliar depois o que era bom e o que era ruim.
É uma baita missão para a semana: perguntar-se o que a vida quer de mim. Certamente não deve ser assistir o BBB. kkkkk

quinta-feira, 17 de março de 2011

Tropa de choque na zona de conforto

Mal chegamos na metade de março, o ano astrológico nem começou... E já tem assunto a perder de vista para a retrospectiva da Globo no final do ano. (Tá em dúvida? Lá vai: desastre aquático 2011 no Brasil, desastre de-tudo-um-pouco no Japão, o quebra-pau nos países árabes...)
Este final de semana, em especial, promete, com o Kadafi prometendo porrada e a ONU toda nervosinha dizendo que vai revidar. Deu um outro terremotão no Chile. E aquela treta em Jirau, o que foi aquilo? No fim das contas, os reatores das usinas japa vão vazar? Aguardem as cenas dos próximos capítulos.
E não sei como está o ambiente ao redor de vocês, mas no meu trabalho todo dia tem um ficando doente e na minha sala toca o dia todo a sinfonia para nariz escorrendo. O trânsito em SP nunca foi aquela coisa fofa, mas, enfim, tá muito louco. Vocês tão se sentindo mais nervosos? Eu tô.
Aí é que vem a parte complicada. Pra gente é muito fácil dizer que o mundo tá muito louco e que a nossa loucura não passa de consequência disso. Os acontecimentos do mundo exterior repercutem, sem dúvida, no nosso psiquismo, porque fica um monte de gente nervosa all over the world pensando se a radiação de Fukushima Daiichi chega em suas casas ou não, estabelecendo um padrão de energia nervoso, claro.
Mas entrar nessa onda de nervosismo e energia esquisita retira de nós o poder de mudar alguma coisa, nem que seja um pouquinho. É o contrário do que discuti no último post, o ser humano agindo para mudar as circunstâncias.
Não vou ficar naquele lugar-comum de "sorria que isso já é uma ajuda"; é muito cômodo sorrir enquanto dentro de nós estamos sofrendo o diabo, pelas mais diversas razões. Acho que estes tempos interessantes (sorry, Hobsbawm) em que vivemos estão proporcionando uma oportunidade única para transformarmos de forma profunda nossa visão de mundo, longe daquela zona de conforto contendo trabalho chato mas que paga as contas + novela/futebol + relações meia-boca que só servem para fazer pressão no Facebook. Esse é o grande barato das épocas de riscos: o homem acaba tendo de colocar a inteligência pra trabalhar.
No caso dos humanos viventes neste ano de 2011 que já têm mais de, sei lá, 25 anos, parece que tem uma Tropa de Choque mandando ver na acomodação e conformismo. Não sei se a gente tem muita escolha: é mudar ou mudar...

segunda-feira, 14 de março de 2011

O poder de ser humano

A sucessão de tragédias dos últimos três anos - Haiti, Chile, RJ, SC, Japão... - sempre suscita aquele velho lugar-comum de que nós não podemos com Deus, que tudo acaba quando Ele quer etc. É a disseminação daquela imagem de Deus como um ser que, de repente, resolve brincar de tortura com os hominhos e destruir a própria criação.
Sejamos ou não crentes em Deus, temos de convir que, de um jeito ou de outro, nós humanos somos frágeis diante de uma determinada força que é mais forte do que nós, seja ela chamada Deus, Natureza ou o que for. Mas ainda assim acho que dizer que devemos nos resignar aos desastres pela força da "mão de Deus" ou "da natureza" é perpetuar uma certa noção de culpa por sermos humanos, como se não prestássemos em absoluto e não fizéssemos parte nem da criação de Deus, nem da Natureza.
Observe-se o Japão - para a sequência de desgraças que vem assolando aquele país, acho que era para a conta de mortos e prejuízos ser bem maior. Os reatores nucleares, se estivessem num país em desenvolvimento, já tinham explodido. O homem mostrou sua adaptabilidade a uma área geologicamente tensa, no que foi possível. E podem apostar que esse povo dedicado não vai se resignar. Eles vão pedir a ajuda dos deuses e seguirão adiante. Talvez até considerem que a desgraça tinha que vir, que tinha de ser assim. Mas, mais uma vez, duvido que algum deles pense que "o homem não deve desafiar as leis divinas" e deve se resignar à desgraça.
O homem, quando resolve se superar, faz coisas incríveis. Nessas horas ele chega bem perto de ser Deus. Afinal, não foi feito à imagem e semelhança dele? Por que não haveria de fazer prodígios? O ideal seria, na verdade, trabalhar levando em conta Deus/a natureza. Porém, o puro e simples poder de inventar e idealizar tem o poder de nos aproximar deles.
Fora, culpa esmagadora. Não queremos você aqui.

domingo, 13 de março de 2011

Gente, prostituição é um assuntinho que rende, hein?
Agora uma parte dele que revira um tanto o estômago: exploração sexual turística de menores de idade para alemães tarados.
http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1653277-15605,00-TURISMO+SEXUAL+NO+BRASIL+E+VENDIDO+NA+ALEMANHA.html

PS: quem me conhece sabe que eu adoro cultura japonesa. Ainda não falei sobre a tragédia de lá porque NÃO CONSIGO.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Mais recortes...

Aproveitando não só o post anterior, mas também as comemorações do Dia Internacional da Mulher... Duas indicações da Camila sobre a temática da prostituição:

1. Vídeo muito interessante sobre as prostitutas de idade, hã, "acima da média" da Praça da Luz ("69 Praça da Luz"): http://vimeo.co​m/8494274

2. Clip de uma música do Manu Chao que fez parte do filme "Princesas", que trata da prostituição e seus percalços: http://www.youtube.com/watch?v=76kQSQtv3rA&feature=fvst

domingo, 6 de março de 2011

Recortes da prostituição

Momento 1: é um filme inteiro, o da Bruna Surfistinha. Até que o filme é legal. Ele traz uma visão realista (no sentido técnico artístico) do que é ser prostituta, e talvez essa seja a graça - visceralidade, necessidades biológicas e psicológicas envolvidas. Não há romantização e nem pornografia. É aquilo e pronto.
É interessante como ela vai construindo uma "carreira" que só balança por conta de um fator que atrapalhou muitas outras carreiras, a droga. Ela faz porque gosta, e não tem problemas com isso, não liga para os estereótipos e ficou famosa com uma certa dose de inteligência, creio eu.
Não acho que a história da Bruna seja um "estímulo" à prostituição ou algo do tipo, até porque ela mostra coisas bem barra-pesada da profissão. Mas sem dúvida mostra uma pessoa que se descobriu - veja só - como profissional do sexo. Ela teve coragem de se assumir nisso. Tem gente que não assume coisas bem mais leves na vida.

Momento 2: nos 40's, uma menina do interior vai numa excursão da fábrica em que trabalha para Santos. Lá conhece um oficial da Força Aérea. Eles se apaixonam e se casam - mas o príncipe encantado vira um sapo verruguento quando, para conseguir dinheiro, obriga a moça a se prostituir. Entre idas e vindas da casa do pai, além de mil e uma desventuras, ela acaba assassinada pelo próprio marido, que, durante as investigações, ainda tenta pagar de marido ultrajado pra tentar se safar pela legítima defesa da honra. Ainda bem que ele não conseguiu. Foi condenado a uns bons anos de cana.
Essa história está contada num processo judicial que editei para a minha dissertação de mestrado. Mas veio a calhar o fato de que trabalhei nesse texto justamente na época do Carnaval e em que vi o filme da Bruna.

O que achei interessante nesses dois "momentos" foi notar como a prostituição pôde ao mesmo tempo servir como autoafirmação e como degradação. A Bruna Surfistinha me pareceu mais próxima de uma sacerdotisa do sexo dos templos egípcios antigos do que de uma "vagabunda" qualquer - e o crescimento da sua imagem mostra que ela virou uma verdadeira profissional. Já a menina assassinada passou, num curto espaço de tempo, de donzela a vagabunda involuntária.
Nos dois casos o elo de ligação é a necessidade biológica de sexo. Mas num caso ela cria uma espécie de "spa" urbano para homens carentes/insatisfeitos - que são mais objeto da Bruna do que o contrário. No outro caso, temos a visão que correntemente se tem da prostituição, com a mulher totalmente escravizada à moda antiquíssima. A coitada da menina nem pôde aproveitar as coisas boas da vida sexual, acho.
São dois lados de uma mesma moeda. Achei legal fazer essa reflexão porque, sendo mulher, tenho a tendência a achar que a prostituição é, necessariamente, exploração, e resultado de um mundo louco que mantém a mulher acorrentada (valeu, Tears for Fears).
Nosso mundo está louco, sim, mas o homem não necessariamente é o algoz. Sujeitos massacrados por esposas megeras têm boa chance de recorrer a mulheres como a Bruna, que os ouvem, fazem tudo MESMO etc.
Enfim, tudo volta àquela mesma antiga base, do respeito mútuo pelas diferenças. Um discursinho aquariano básico, da igualdade entre todos, apesar dessas mesmas diferenças.