segunda-feira, 25 de abril de 2011

Relacionamento "real" e "na real"

O evento da semana é um casamento real, porque um dos consortes é um príncipe do Império Britânico. Chique, né? Mas será que é real, verdadeiro, cheio de amor? Sei lá. Só leio revista de fofoca no cabelereiro. Mas, trazendo a polissemia do termo "real" para o nosso dia-a-dia, noto que é bem difícil manter o príncipe/princesa como tal na realidade nua e crua.
Às vezes é preciso pouca coisa. Uma palavrinha fofa, um sorriso. Conforme a situação em que o casal esteja, precisa um pouco mais: perdão, presente, cair de joelhos, quebrar a rotina.
Porém, outras vezes deixamos a rotina nos contaminar, e deixamos o ser amado em segundo plano, não obstante as pessoas que amamos, sejam quais forem, devam ser sempre prioridade. Outras vezes quem nos contamina são outras pessoas, opiniões distorcidas, bobageiras oriundas de outras mentes, cujo conteúdo não necessariamente precisa coincidir com o da nossa.
O "real" da realidade congela e aleija relacionamentos, não necessariamente amorosos, mas também de amizade e de família. Gozado como temos a tendência a colocar todo o resto na frente desses relacionamentos. Mais gozado ainda é que levaremos pela vida esses relacionamentos e não todo esse resto. Esquisito... Porque nossos amados tenderão a nos colocar em primeiro lugar.
Quando estivermos precisando de estímulo, nosso parceiro amoroso não vai medir esforços para nos animar.
Quando precisarmos de um cafuné, nossa mãe vai estar lá pra providenciar isso.
Quando precisarmos confessar uma besteira que fizemos e arrumar uma solução para ela, nosso melhor amigo vai colocar os ouvidos à disposição.
Mas a gente não retribui à altura. Sempre tem alguma coisa mais importante. O real, duro, tosco do dia-a-dia acaba sempre prevalecendo sobre essas pessoas, impedindo que possamos ter uma relação real, rica, iluminada. É muito fácil para nós retribuir uma grosseria. Por que não é tão fácil assim retribuir amor?
Bom, ter uma relação real (=iluminada) só depende de avaliarmos devidamente o real (=realidade) com os óculos corretos. Os óculos do amor. Brega, porém verdadeiro.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Perfeição

Às vezes, o jeito que encontro para refletir sobre a vida é por meio de um joguinho mental. Uma palavra vem à mente e, assim que percebo isso, faço uma conexão entre essa palavra e situações concretas. Esse exercício tem me ajudado muito a compreender a mim mesma, e gostaria de compartilhá-lo, torcendo para que seja útil também a quem leia isto.
Hoje, a palavra que me martelou a cabeça foi perfeição.
Tudo começou quando tive a idéia de escrever para esta coluna. Sabem, sentar na frente do computador e começar a escrever é uma experiência meio traumática para quem gosta muito de ler, como eu. Nada fica suficientemente bom. E pensar que as pessoas vão achar que eu escrevo mal e que o texto está absolutamente desinteressante é horrível... (Talvez isso aconteça porque eu mesma sou muito crítica com o que leio por aí.) Apago tudo várias vezes e nem sempre chego ao final do que começo.
Aí “alguém” – provavelmente o meu anjinho da guarda - me diz que isso acontece porque eu estou usando parâmetros de comparação inadequados. Grandes escritores, narradores brilhantes de histórias... Ora, retruco, mas não temos que buscar sempre o melhor? Com o que vou me comparar, então? Vou me nivelar por baixo? Eu quero que o meu texto saia simplesmente perfeito! Afinal, ele vai aparecer para não sei quantas mil pessoas...
A vozinha responde, muito singelamente: compare-se com você mesma.
Juro, não entendi nada. E a confusão se instala. Comigo? Como? Quando? Onde? Por que?
No meio da confusão, abrem-se parênteses. Surge uma imagem mental. Um sujeito de terno e gravata atrás de uma mesa não lá muito bonita, numa sala calorenta, repleta de caderninhos, uns mais grossos, outros mais finos, mas todos do mesmo tamanho e cor. Melhor dizendo, são autos. Processos judiciais. O sujeito é um juiz de Direito.
Esse juiz está diante de uma dúvida cruel: libertar ou não um conhecido criminoso. Ele sempre foi elogiado pelos colegas pela perfeição de suas decisões, sempre justas e sempre com respaldo legal, mas, desta vez, ele deve escolher entre a justiça da necessária libertação do réu (pois, nesse caso, há bons motivos legais para isso) ou colocar em risco o bem maior que é a segurança da sociedade, na medida em que nada lhe garante que o preso não vá voltar a cometer crimes.
Na minha visão, sabem o que faz o juiz? Ele pensa que, por mais que o tal criminoso tivesse na cabeça mais crimes por cometer, não seria justo permanecer preso, se existem motivos que permitem a soltura – leis, criadas por pessoas que a própria sociedade escolheu para fazê-las. Além do mais, não é certo que ele vá reincidir no crime. Ele decide soltar o réu. Profere essa decisão sem saber se está perfeita para todo mundo, mas certo de que, para o seu conceito de justiça, está corretíssima. Fecham-se parênteses.
OK, anjo. Acho que entendi. O juiz seguiu o seu conceito de perfeição, já que não se poderia, no caso dele, agradar a gregos e troianos. E eu com isso?
Enquanto processava essas perguntas na minha cabeça-computador, escuto uns gritinhos de criança na casa do vizinho. A criança está feliz, brinca com algum adulto, que, por sua vez, não pára de paparicá-la e achar tudo o que ela faz bonitinho.
Eureca. Nem tudo que a criança faz é perfeito, mas... Nós, adultos, tendemos a sempre achar perfeito o que ela faz. É que a criança pequena não tem aqueles condicionamentos bobocas dos adultos, de achar que nada é suficiente, que é impossível ser perfeito, e que, para conseguirmos alguma coisa, temos que passar por cima dos outros. Ou pior: não vamos mesmo conseguir nada... Ela simplesmente é. Simplesmente expressa a si mesma, com toda aquela pureza e, hã, digamos, “fofura”.
E então me vêm à mente as palavras de um sujeito chamado Jesus, que há um tempão atrás disse que só os que forem como crianças entram no Reino dos Céus. O que pode ser traduzido assim: só aqueles que são o que são alcançam a perfeição (até rimou, fica fácil de gravar assim).
Ahá! É por isso que tenho de me comparar comigo mesma. O que tenho a transmitir por meio do que escrevo não pode ser escrito por mais ninguém. Faz parte das minhas convicções íntimas. Faz parte do que sou. O meu raciocínio deve ser: melhorar cada vez mais a minha forma de expressar o que sou. Além do mais, apenas eu posso selecionar o que é mais ou menos perfeito, dentro da minha cabeça. Ninguém pode fazer isso por mim. E é certo que não vou agradar a todo mundo (como já disse alguém, a unanimidade é burra – e eu concordo, pois nela não há discussão, nem ponderação, apenas aceitação cega!).
Hmm, e se a gente parar para pensar que alguns credos pregam que todos temos um pedacinho de Deus - a centelha divina – dentro de nós, isso faz todo o sentido...
Então, perfeição nada mais é do que ser eu mesma? Sim! E, ao mesmo tempo, não. Dentro de nós mesmos, como já tinha dito mais acima, existe uma porção de condicionamentos ruins que nos impedem de fazer isso. Mas... Isso é assunto para uma outra conversa!
(Estou feliz por ter conseguido acabar a contento o meu texto, com a maior perfeição possível. E você? O que eu disse lhe ajudou em alguma coisa? Como anda o seu conceito de perfeição?)
[Este texto foi escrito por mim em 2004 e estava perdido no meu computador antigo. Mas a mensagem - ao menos para mim - continua atual.]

quinta-feira, 14 de abril de 2011

No que você acredita?

Se a gente parar um pouquinho para pensar, notamos que nossa vida gira numa lógica de pressão e medo. Desde pequenos ouvimos e somos levados a acreditar em aforismas de vida em sociedade que ninguém sabe quem inventou. Só sabemos que passamos a vida toda tentando nos equilibrar numa corda bamba, por conta dessas crenças. Por exemplo:
- Trabalha, senão morre de fome.
- Tenha relacionamento afetivo, senão fica sozinho(a).
- Cuida do corpo, senão fica gordo(a) e não consegue relacionamento afetivo.
Bom, esses são três exemplos dentre tantos outros possíveis (são os mais comuns, acho eu). Mas vamos basear neles a minha proposta de reflexão de hoje: para onde nos levam esas crenças?

1. "Trabalha, senão morre de fome"
Essa crença sufoca muitas aptidões incríveis e corta a felicidade de uma porção de gente, que acaba aceitando um emprego pelo salário e/ou benefícios financeiros e não pelo sentimento de estar sendo útil ou de estar fazendo algo que realmente ama.
Mas isso é o que nos diz a sociedade toda vez que despreza um hippie que prefere viver da horta e quando muito vende artesanato, sem ficar o dia todo trancado num escritório. Vai dizer que você não acha um tipo desses estranho? E quem decide viver de sua arte, então? A maior objeção a carreiras artísticas é o fato de que "não dá dinheiro" e que artista "não trabalha" (mas quem conhece artistas sabe o quanto é sofrido e complexo o processo criativo).
Dinheiro é bom e eu gosto. Mas ele não pode ser o objetivo último e definitivo de ninguém. O resultado será uma insatisfação crescente e talvez até uma doença. Fazer algo com prazer deixa todo mundo mais feliz e - quem diria - também pode dar dinheiro. (Pois vincular o dinheiro a um trabalho com carteira assinada ou profissão tradicional também é uma falsa premissa social.)

2. "Tenha relacionamento afetivo, senão fica sozinho(a)"

Muita gente não quer namorado(a). Quer mostrar que está com alguém. Algumas vezes isso é desvirtuado mais ainda: a pessoa quer mostrar que está com alguém bonito pois tem condições de conquistar alguém assim.
Pelo menos pra mim, o companheiro tem que ser o melhor amigo, o amante e confidente. Poxa, é uma pessoa que compartilha a sua intimidade sexual, o seu tesouro mais secreto. Tem que ter entrega no resto também. "Ah, mas e se ele me enganar?" Ué, larga esse e acha outro.
O que não pode é ser vitrine do "bom gosto" alheio e muito menos uma garantia de ter alguém por perto. Por que tem tanto divórcio, tanta prostituta, tanta televisão etc.? Adivinha... Carência, falta de um verdadeiro companheiro. Não importa se demorar pra chegar. Não importa o ficar sozinho por um tempo. Importa é que o relacionamento seja algo que realmente valha a pena (como tudo o mais na vida).

3. "Cuida do corpo, senão não consegue relacionamento afetivo"
Essa é ótima porque é uma crença que sai de uma outra, a que comentamos acima. E também se baseia em outra falsidade, a de que relacionamentos afetivos são apenas para pessoas dentro do padrão vigente de beleza.
Cuidar do corpo é um ato de amor por si mesmo, e não uma forma de pedir amor ao outro. A sua saúde depende disso. O seu bem estar também. Mas não o relacionamento afetivo.
Bom lembrar que tem muito casal de "feios" que é a coisa mais linda, porque nesses casos o que uniu o casal foi a verdadeira afetividade, o verdadeiro frisson um pelo outro, e não a imagem. Aquela antiga propaganda da Sprite pode ser readaptada para fechar esta análise: "imagem não é nada, amor é tudo".

4. Conclusão
Viver é uma eterna busca da verdade. Não a verdade das coisas que acontecem todos os dias, mas a nossa verdade, que nem sempre bate com o que todo mundo diz.
Se você leu este texto e quis virar hippie, repensar o relacionamento ou assumir que está apaixonado(a) por um feio, vai fundo. Se não der certo, paciência; pelo menos você não vai passar a vida toda pensando que poderia ter tentado. Mas, via de regra, fazemos as coisas que realmente amamos com mais paixão do que o normal. A tendência é dar certo. Observe a diferença entre aquela comida que você faz na rotina, de qualquer jeito, e aquele mega almoço de domingo que você faz pra receber os queridos.
Seguir o que todo mundo diz gera medo, gera pessoas tristes. Você quer ser medroso e triste? Eu não.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Depois de muito pensar (e fuçar nas manchetes) para escolher a pauta desta semana, notei que, ultimamente, houve um aumento desproporcional de notícias sobre violência e preconceito contra homossexuais. Vez ou outra sempre pipoca alguma coisa, mas agora foi um monte de coisa junta. Teve o caso do jogador de vôlei zoado por uma arquibancada inteira, o da menina que foi assassinada pela família da namorada, do cara da FFLCH que apanhou não sei onde...
Homossexualidade sempre foi assunto delicado. Mas é fato que não pode ser ignorado. O pior são as pessoas ditas "comuns" (classe média, em regra) dizendo que é um "exagero" que os gays precisam de uma passeata para comemorar o dia deles, ou que não precisa muito aparato legal nem de apoio moral porque o preconceito "não é tão grande assim". Será mesmo? No caso do Michael, o jogador de vôlei, ele disse que se surpreendeu ao ver velhinhas e crianças chamando-o de "bicha" (e não os marmanjos babacas com os quais ele já estava acostumado). O negócio tá muito entranhado na cabeça das pessoas "comuns".
Ainda falando de preconceito, mas contra outra categoria, fiquei nude quando soube do site que coleciona twits asquerosos de gente tirando onda da empregada. Um deles se vangloria de ter conseguido fazer com que a mãe mandasse embora três domésticas num mês. Bom, isso daí acho que Gilberto Freyre explica. Síndrome de sinhozinho na cabeça de moleques que não têm o que fazer. Pena, né?
Isso dá liga pra comentar a comunidade das madames que se juntam pra falar mal de empregada... Putz, se eu ficar lembrando de todas as notícias toscas de gente que, como bem disse a galera que eu acompanho no Buzz, ainda vive na Idade Média vou escrever um tratado.
Fico pensando nesse povo saindo da Igreja, do centro espírita ou do terreiro ouvindo palavras bonitas no sentido de que todos devemos respeitar a todos e que os pequeninos são grandes no reino de Deus. Aí acham lindo, coisa e tal... Até a hora em que vão no jogo de vôlei ou que topam com a empregada.
Mas os indignados não estão ficando quietos (e nem devem). Estudantes de uma universidade na Bélgica mandaram uma torta na cara do bispo de Bruxelas com gosto. O motivo: o sujeito deu declarações no sentido de que a Aids seria resultado da "ira de Deus" contra o sexo fora do casamento (e especialmente contra a homossexualidade). Como se Deus fosse aquele velho terrível que só pensa em castigo... E, ainda por cima, fosse preconceituoso!
Mérito duplo da manifestação: não usaram de violência e mostraram sua indignação. Ainda há esperança, meu povo...