Se a gente parar um pouquinho para pensar, notamos que nossa vida gira numa lógica de pressão e medo. Desde pequenos ouvimos e somos levados a acreditar em aforismas de vida em sociedade que ninguém sabe quem inventou. Só sabemos que passamos a vida toda tentando nos equilibrar numa corda bamba, por conta dessas crenças. Por exemplo:
- Trabalha, senão morre de fome.
- Tenha relacionamento afetivo, senão fica sozinho(a).
- Cuida do corpo, senão fica gordo(a) e não consegue relacionamento afetivo.
Bom, esses são três exemplos dentre tantos outros possíveis (são os mais comuns, acho eu). Mas vamos basear neles a minha proposta de reflexão de hoje: para onde nos levam esas crenças?
1. "Trabalha, senão morre de fome"
Essa crença sufoca muitas aptidões incríveis e corta a felicidade de uma porção de gente, que acaba aceitando um emprego pelo salário e/ou benefícios financeiros e não pelo sentimento de estar sendo útil ou de estar fazendo algo que realmente ama.
Mas isso é o que nos diz a sociedade toda vez que despreza um hippie que prefere viver da horta e quando muito vende artesanato, sem ficar o dia todo trancado num escritório. Vai dizer que você não acha um tipo desses estranho? E quem decide viver de sua arte, então? A maior objeção a carreiras artísticas é o fato de que "não dá dinheiro" e que artista "não trabalha" (mas quem conhece artistas sabe o quanto é sofrido e complexo o processo criativo).
Dinheiro é bom e eu gosto. Mas ele não pode ser o objetivo último e definitivo de ninguém. O resultado será uma insatisfação crescente e talvez até uma doença. Fazer algo com prazer deixa todo mundo mais feliz e - quem diria - também pode dar dinheiro. (Pois vincular o dinheiro a um trabalho com carteira assinada ou profissão tradicional também é uma falsa premissa social.)
2. "Tenha relacionamento afetivo, senão fica sozinho(a)"
Muita gente não quer namorado(a). Quer mostrar que está com alguém. Algumas vezes isso é desvirtuado mais ainda: a pessoa quer mostrar que está com alguém bonito pois tem condições de conquistar alguém assim.
Pelo menos pra mim, o companheiro tem que ser o melhor amigo, o amante e confidente. Poxa, é uma pessoa que compartilha a sua intimidade sexual, o seu tesouro mais secreto. Tem que ter entrega no resto também. "Ah, mas e se ele me enganar?" Ué, larga esse e acha outro.
O que não pode é ser vitrine do "bom gosto" alheio e muito menos uma garantia de ter alguém por perto. Por que tem tanto divórcio, tanta prostituta, tanta televisão etc.? Adivinha... Carência, falta de um verdadeiro companheiro. Não importa se demorar pra chegar. Não importa o ficar sozinho por um tempo. Importa é que o relacionamento seja algo que realmente valha a pena (como tudo o mais na vida).
3. "Cuida do corpo, senão não consegue relacionamento afetivo"
Essa é ótima porque é uma crença que sai de uma outra, a que comentamos acima. E também se baseia em outra falsidade, a de que relacionamentos afetivos são apenas para pessoas dentro do padrão vigente de beleza.
Cuidar do corpo é um ato de amor por si mesmo, e não uma forma de pedir amor ao outro. A sua saúde depende disso. O seu bem estar também. Mas não o relacionamento afetivo.
Bom lembrar que tem muito casal de "feios" que é a coisa mais linda, porque nesses casos o que uniu o casal foi a verdadeira afetividade, o verdadeiro frisson um pelo outro, e não a imagem. Aquela antiga propaganda da Sprite pode ser readaptada para fechar esta análise: "imagem não é nada, amor é tudo".
4. Conclusão
Viver é uma eterna busca da verdade. Não a verdade das coisas que acontecem todos os dias, mas a nossa verdade, que nem sempre bate com o que todo mundo diz.
Se você leu este texto e quis virar hippie, repensar o relacionamento ou assumir que está apaixonado(a) por um feio, vai fundo. Se não der certo, paciência; pelo menos você não vai passar a vida toda pensando que poderia ter tentado. Mas, via de regra, fazemos as coisas que realmente amamos com mais paixão do que o normal. A tendência é dar certo. Observe a diferença entre aquela comida que você faz na rotina, de qualquer jeito, e aquele mega almoço de domingo que você faz pra receber os queridos.
Seguir o que todo mundo diz gera medo, gera pessoas tristes. Você quer ser medroso e triste? Eu não.
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