sábado, 18 de fevereiro de 2012

Eu normalmente escrevo aqui pra reclamar, questionar etc. etc. E esse Carnaval prometia mais disso... Já passei por aquela situação de estar no exterior nessa época e os gringos me perguntarem por que é que eu não estava no Rio. Porque simplesmente detesto! Sem falar que a energia fica MUITO densa nesta época por causa do povo se preparando para chutar o balde nos bailes, para soltar todos os desejos reprimidos de um ano inteiro e que elas não sabem extravasar na vida diária.
Mas a perspectiva deste feriado, que prometia ser de pura preguiça, mudou do avesso, por causa de fatos singulares de uma sexta-feira de Carnaval. E me vi forçada a escrever em favor das pequenas alegrias que às vezes nos passam despercebidas. OK, pode ser até meio meloso e cafoninha. Mas é a vibe em que estou agora. Não tô me incomodando muito em parecer assim. (Deve ser Netuno em Peixes, deixando a gente meio sonhadora.)
Tudo começou com a vinda para São Paulo. Para driblar o trânsito da Marginal e do Anhembi, vim pela rota D. Pedro/Fernão Dias. Gosto muito desse caminho porque é bonito, pena que não seja o mais rápido - senão o faria mais vezes. Mas ontem o pôr-do-sol foi espetacular. Fazia uma neblina fina que difundia os raios do sol; o céu ficou meio amarelo, meio laranja, contrastando com nuvens cinza-escuro de chuva. Parecia cenário de filme de fantasia. Me senti atraída para aquele céu, mas tinha que me lembrar que não podia olhar muito pra ele, porque estava dirigindo!
E me vi dividida entre esse mundo de sonho e o mundo real, viajando mesmo na maionese mesmo com todas as curvas e caminhões da Fernão Dias. Que coisa engraçada. É muito fácil isso acontecer quando estou na cama me preparando pra dormir. Mas ter essa sensação assim, disparada por um pôr-do-sol bonito (vejo vários em Vinhedo...), foi algo fora do normal. Arriscado para quem está dirigindo - mas um bom sinal de que estou cada vez menos presa a coisas-que-todo-mundo-quer-que-eu-faça.
Mais tarde, chego na casa dos meus pais e vejo uma cena que não via há muito tempo - toda a família reunida, meus irmãos numa disputa acirrada de futebol no videogame, o Martín correndo para todos os lados e um clima incrível de alegria. Sim, alegria. A casa dos meus pais é muito grande e normalmente vazia, as pessoas estão sempre de passagem por aqui. Mas ontem senti algo realmente diferente e que parecia contagiar a todos. Nada como bastante distância e ausência para que a gente perceba a importância das pessoas na nossa vida.
E esse Carnaval, que prometia horas de televisão e sono, vai ser animado. Não no sentido de que vou cair no samba. Mas de que estou com olhos e ouvidos abertos pra navegar no meio das insanidades tão próprias desse feriado através das belas sutilezas de coisas aparentemente comuns, o que torna totalmente desnecessário afogar-se em alegria artificial.  

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Outro dia fui apresentada pela Beta a um tumblr chamado "Celebrity close-up". Dele constam fotos infelizes de celebridades em, aham, "alta definição", mostrando imperfeições, linhas de expressão e todo tipo de problema facial que nós, meros mortais, vira e mexe estamos correndo pra consertar ou prevenir. Afinal, celebridade também é gente!
A reflexão que veio em seguida foi: bom, a gente também é gente. Ficamos surtadas correndo para lá e para cá, preocupadas em fazer limpeza de pele, usar anti-aging e outros paramentos todos para ficarmos minimamente parecidas com pessoas que... Bem, são gente como a gente? Isso prova que querem realmente que corramos atrás de uma perfeição inatingível.
Sei que é chover no molhado discutir a pressão do marketing e da mídia para que a mulher seja compulsoriamente adequada a padrões de beleza (ser bonita é outra coisa, que vem da alma, não é isso aí não). Mas a busca da perfeição impossível é algo pra pensar, né? Denota, como sabemos, um tanto de falta de personalidade e outro tanto de muito tempo em frente à TV ou em sites de variedades.
Na Europa têm sido proferidas interessantes decisões impedindo indústrias de cosméticos de photoshopar as estrelas de seus anúncios. Claro, é propaganda enganosíssima. Mas pode ser reflexo de uma tomada mínima de consciência que pode ter atingido a sociedade (afinal, essas decisões só começaram a pipocar agora e a propaganda enganosa vem atravessando as décadas), agora mais voltada para a importância mínima de cada personalidade perante o mundo. Tô viajando muito? Gostaria de não estar.
Ainda vai levar um tempo até que estejamos todos totalmente desconectados da necessidade de ídolos. Mas, enquanto ainda estamos precisando deles, encerro lembrando de Brigitte Bardot, que optou por envelhecer e pronto, com rugas, pelancas e tudo o mais. Ela fez isso de tão cansada que estava da imagem de sex symbol. Admito que não a seguiria nessa decisão extrema. Mas, para uma personalidade sensível, ver-se como objeto 24 horas por dia e manter essa imagem o tempo todo não deve ser fácil. Ela chutou o balde e quis uma vida absolutamente normal; as demais celebridades, como pudemos ver no tumblr, também dão umas escapadinhas de vez em quando para a situação dos reles anônimos. A gente também pode ter nossos dias de celebridade e nossos dias de anônimo, viu, indústria dos cosméticos?