terça-feira, 17 de julho de 2012

Propaganda enganosa

Quando eu tinha 15 anos e lia Capricho, fui habilmente convencida de que a vida adulta me traria segurança e firmeza. Evidentemente, isso estava condicionado a ter e ser várias coisas que a revista dizia que eram cool. Mas mesmo assim ficou a ponta de certeza de que, depois dos 21 anos (naquele tempo a maioridade legal vinha depois dos 21) tudo seria diferente, eu seria um mulherão cheio de força e poder pra fazer o que quisesse.

Mas, bem, estou com 34 e ainda tenho umas muitas inseguranças que a maioridade não resolveu (na verdade, ela agravou algumas...). Como isso tem martelado na minha cabeça esses dias, quero compartilhar o que me pinicou e saber se isso acontece só comigo... Ou se tem mais gente passando pela mesma coisa.

1. A conquista
Atire a primeira pedra quem teve uma adolescência tranquila, na qual era muito fácil falar para o objeto do seu desejo que você estava a fim. Ou quem não se atrapalhou pra fazer isso, não se declarava das formas mais sem noção que se tem notícia. Daí você cresce um pouco mais, consegue arrumar um namorado, acha que nunca mais vai ter aquele trabalho todo... Até que o namoro termina e você se vê de novo "no mercado" da conquista e sem prática de paquera. Especialmente se seus namoros foram todos muito compridos, com anos de duração.

Bom, eu passei por essa situação algumas vezes e agora voltei a ela. E, aham, estou me sentindo com 15 anos de novo, tremendo na base na hora em que dou de cara com o cara, pulando de felicidade quando bate email, postagem no Facebook ou telefonema do sujeito e ficando com cara de tacho por não ter a mínima ideia de como acelerar a situação. Se é que dá pra acelerar: será que ele gosta de mim, Jesus???Reações nada equilibradas, nada condizentes com uma pessoa que fez duas faculdades, faz mestrado, estuda o transcendental e o oculto etc. etc. 


2. As multidões
Eu era meio tapada em multidões no final da infância e na adolescência. Fila da cantina do colégio era uma tristeza. Eu sempre ficava por último e só conseguia comer no final do recreio. Metrô das 7 da manhã, então, era tenso. O povo me carregava junto, parecia uma grande ola no Morumbi, com a diferença de que eu não sabia se ia entrar no trem, cair na linha ou voltar para a porta da estação.

Eu ainda sou tapadíssima em multidões; crescer e ser uma mulher até que alta para os padrões brasileiros não ajudou muito. Segurar lugar em show é todo um trabalho de estratégia... E o metrô, graças a Deus, não preciso mais encarar o das 7 da manhã nem o das 6 da tarde porque moro no interior, e tenho o privilégio de poder andar em São Paulo fora dos horários de pico. Mas a ola da Sé sempre está à espreita...

3. Os pronomes de tratamento
Minha mãe sempre disse que tinha de chamar os mais velhos ou pessoas com ascendência de senhor ou senhora. E aquilo ficou entranhado na minha cabeça, como uma formalidade inescapável da qual não consigo me libertar nem mesmo quando a outra pessoa pede, pelo amor de Deus, para que eu não a trate como velha (isso tá na moda hoje, o que é ótimo!).

Isso parece besta, mas tem proporções engraçadas. Só de uns tempos pra cá parei de chamar meu orientador de mestrado (pouca coisa mais velho que eu) por pronomes de tratamento sisudos. E mulheres aparentemente jovens mas que, pela condição em que estão, têm idade e ascendência acabam sendo "senhoras"... Mesmo que não queiram ser tratadas assim. Alguma coisa ainda fica dizendo pra mim que eu sou menininha sem sê-lo de verdade!


Ai, gente, como fizeram propaganda enganosa da idade adulta. Tenho maquiagem e roupa da moda, mas não tenho segurança. A Capricho me enganou! Claro, segurança e firmeza não vêm com idade... Vêm com maturidade. E essas duas coisas não se confundem.

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