sábado, 14 de janeiro de 2012

Na véspera de Natal tive um sonho louco. Andava por um caminho escuro até ver uma luz ao longe. Luzinha meia-boca, mas tava valendo.
Tinha uma pessoa ali. Fui chegando perto, perto, perto... E pasmei quando vi a criatura.
Era eu mesma. Mas não era como olhar no espelho. Imaginem aquela louca que era interpretada pela Helena Bonham Carter nos filmes do Harry Potter, mas com cabelo curto e escorrido. Ela ria da minha cara como se tivesse ouvido piada do Costinha.
Achava graça porque eu deixava pra lá quando, por exemplo, alguém vinha pela milionésima vez "avisar" algo achando que eu não soubesse, com falsa modéstia; quando eu decidia não me vingar de alguém que fazia algo com o que nao concordava; quando eu devolvia troco que veio a mais... E assim por diante.
Claro que ela fazia tudo pelo avesso. Fazia umas coisinhas ainda piores. Mas sabe o que foi o mais louco? Achei legal isso! Era como se eu desabafasse desejos maus que o superego bloqueia pelo treino, pela educação.
Acordei assustada e sem entender direito. Nestes dias me peguei pensando muito nisso de novo, porque ouvi demais sobre a sombra e o lado negro da personalidade, que todo mundo tem mas que fica escondidinho. Essa conclusão de que alguma coisa driblou o superego para que esse sonho aparecesse só veio agora, porque, naquele momento natalino, a coisa foi tão perturbadora que a mandei para as catacumbas da mente, de onde ela veio.
Pensei que a dita sombra estava fazendo um esforço para se mostrar, maior do que nunca. Isso me preocupou, especialmente porque eu ainda tenho (e admito) preocupação exagerada com o que as outras pessoas pensam de mim. Imagina se isso estivesse transbordando e o ascendente Libra aqui não se comportando direito, que feio! Sem falar que tem todo aquele lance de freio social e de correção espiritual, que martela um monte na cabeça numa hora dessas.
Ok, essa manifestação (se ela pode ser considerada assim) deve ter ocorrido por um motivo. A minha sombra nunca se mostrou, ao menos não de forma ostensiva. Ela parecia querer que eu estivesse consciente da sua existência.
Consciente! Por mais assustador que tenha sido me ver vestida de bruxa má pós-moderna, isso não deixa de ser uma vantagem. Pra mim ficou claro que ainda tenho que comer muito feijão antes de me considerar uma pessoa evoluída, que realmente vibra numa oitava superior. Não revidar provocações, não me vingar de ninguém, não enganar ninguém seriam mais consequência da boa educação que tive do que expansão do que realmente vai na minha alma? Isso tem sido uma espécie de prego afiado que tem me pinicado muito esses dias, de um jeito bem dolorido. Mas ter essa consciência facilita muito o começo de um trabalho para reverter esse quadro, porque sei que tenho de transformar possíveis condicionamentos sociais em sentimentos de alma.
Transmutando condicionamentos em sentimentos, também posso extirpar a preocupação com tudo-que-os-outros-vão-dizer. O condicionamento serve de muleta social; o sentimento sincero simplesmente acontece e não procura aprovação.
Hmmm, acho que agora entendi o que Don Juan queria dizer quando afirmou ao Castaneda que "nada importa"...


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