segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Semana passada, num evento de uma editora top-of-the-pops nacional, assisti a uma palestra do Amós Oz. O velhinho é espirituoso e articulado... Entre várias coisas interessantes, ele mencionou um dado que me chocou: mais da metade da população de Israel é a favor da divisão de territórios com os palestinos.
Surpresa! Então não são só os palestinos, o Obama e o Sarkozy que acham Netanyahu um porre. Não sei se os israelenses adotaram essa posição só porque não aguentam mais homens-bomba. Mas, enfim, vi que não é só no Brasil que não se dá trela para a voz do povo.
Mas não foi isso que ficou martelando na minha cabeça. Esse dado se ligou diretamente a uma discussão recente entre a minha turma do moribundo Google Buzz: as pessoas estão mesmo muito raivosas, muito além do normal, ou é só impressão?
No caso do hômi de Israel, a raiva é o método de negociação dele. Pra mim isso é diferente da violência, historicamente o meio mais rápido de sufocar adversários. A raiva carrega consigo um componente de orgulho pessoal, enquanto a violência é mais animal, reativa. Penso que Netanyahu quer mesmo é justificar para os palestinos a sua "superioridade" enquanto "dono" da Terra Prometida, e fica fulo da vida quando ouve que deve ceder.
Peguei um exemplo em escala manchete de jornal, mas reparem nesta semana nas pessoas por aí. Nem vou falar de trânsito porque é hors concours. Mas na loja de doce da esquina, por exemplo, neguinho não quer saber se a atendente deu o troco errado porque teve de dar atenção a outro cliente: ela é burra e incompetente, e pronto. A minha visão prevalece sobre a sua e que se dane a civilidade! O sujeito interpreta que dentre os direitos de consumidor se incluem os direitos de não negociar e de não pedir desculpas - orgulho de consumidor ferido.
É como se, apesar de todo o progresso social que fizemos, de repente as pessoas quisessem voltar a ter pensamento linear, focando apenas em si mesmo, esquecendo do outro.
Nessa discussão que tive com a galera do Buzz, eu tinha chegado à conclusão de que o medievalismo nunca nos deixou. Acrescento que apenas o camuflamos, e que ele está aparecendo com força agora, não sei bem porque. Vai ver Deus quer que o eliminemos de vez, ao invés de ficar empurrando a sujeira pra baixo do tapete.  


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