Acho que todo mundo que curte literatura já teve sua fase pessoana. Os mais malucos vão até dizer que passaram por todos os heterônimos... Bom, sei lá, pra mim a obra de Fernando Pessoa é única, por mais característico e particular que seja cada heterônimo (e ele mesmo).
Mas o que importa é que estou muito pessoana. Estou tão absorta nos poemas por conta de um trabalho da faculdade que, hã, estou "entrando" neles. Estou meio sorumbática e tentando racionalizar sensações... Sintomático!
E ultimamente não tenho entendido direito o que se passa comigo. Desafios estranhos, intolerabilidade extrema para coisas grosseiras, descontrole emocional. Nunca fui muito com a cara do Álvaro de Campos, mas nesses dias tenho me identificado muito com ele. Será que é porque ele é porra-louca e enxerga sob as aparências?
Não sei qual é o sentimento, ainda inexpresso,
Que subitamente, como uma sufocação, me aflige
O coração que, de repente
Entre o que vive, se esquece.
Não sei qual é o sentimento
Que me desvia do caminho,
Que me dá de repente
Um nojo daquilo que seguia,
Uma vontade de nunca chegar a casa,
Um desejo de indefinido.
Um desejo lúcido de indefinido.
Quatro vezes mudou a 'stação falsa
No falso ano, no imutável curso
Do tempo consequente;
Ao verde segue o seco, e ao seco o verde,
E não sabe ninguém qual é o primeiro,
Nem o último, e acabam.
Isso é do Campos, mas podia ter sido eu. É bem o que estou sentindo... E o mais maluco é que não tenho muito motivo pra reclamar, não. Tem muita coisa boa acontecendo na minha vida, graças a Deus. O estranho é que não consigo me livrar da sensação de que tem alguma coisa mais remexendo, e não é só o meu miolo.
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