sexta-feira, 22 de maio de 2009

Acho que todo mundo que curte literatura já teve sua fase pessoana. Os mais malucos vão até dizer que passaram por todos os heterônimos... Bom, sei lá, pra mim a obra de Fernando Pessoa é única, por mais característico e particular que seja cada heterônimo (e ele mesmo).
Mas o que importa é que estou muito pessoana. Estou tão absorta nos poemas por conta de um trabalho da faculdade que, hã, estou "entrando" neles. Estou meio sorumbática e tentando racionalizar sensações... Sintomático!
E ultimamente não tenho entendido direito o que se passa comigo. Desafios estranhos, intolerabilidade extrema para coisas grosseiras, descontrole emocional. Nunca fui muito com a cara do Álvaro de Campos, mas nesses dias tenho me identificado muito com ele. Será que é porque ele é porra-louca e enxerga sob as aparências?

Não sei qual é o sentimento, ainda inexpresso,
Que subitamente, como uma sufocação, me aflige
O coração que, de repente
Entre o que vive, se esquece.
Não sei qual é o sentimento
Que me desvia do caminho,
Que me dá de repente
Um nojo daquilo que seguia,
Uma vontade de nunca chegar a casa,
Um desejo de indefinido.
Um desejo lúcido de indefinido.

Quatro vezes mudou a 'stação falsa
No falso ano, no imutável curso
Do tempo consequente;
Ao verde segue o seco, e ao seco o verde,
E não sabe ninguém qual é o primeiro,
Nem o último, e acabam.

Isso é do Campos, mas podia ter sido eu. É bem o que estou sentindo... E o mais maluco é que não tenho muito motivo pra reclamar, não. Tem muita coisa boa acontecendo na minha vida, graças a Deus. O estranho é que não consigo me livrar da sensação de que tem alguma coisa mais remexendo, e não é só o meu miolo.

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