A sucessão de tragédias dos últimos três anos - Haiti, Chile, RJ, SC, Japão... - sempre suscita aquele velho lugar-comum de que nós não podemos com Deus, que tudo acaba quando Ele quer etc. É a disseminação daquela imagem de Deus como um ser que, de repente, resolve brincar de tortura com os hominhos e destruir a própria criação.
Sejamos ou não crentes em Deus, temos de convir que, de um jeito ou de outro, nós humanos somos frágeis diante de uma determinada força que é mais forte do que nós, seja ela chamada Deus, Natureza ou o que for. Mas ainda assim acho que dizer que devemos nos resignar aos desastres pela força da "mão de Deus" ou "da natureza" é perpetuar uma certa noção de culpa por sermos humanos, como se não prestássemos em absoluto e não fizéssemos parte nem da criação de Deus, nem da Natureza.
Observe-se o Japão - para a sequência de desgraças que vem assolando aquele país, acho que era para a conta de mortos e prejuízos ser bem maior. Os reatores nucleares, se estivessem num país em desenvolvimento, já tinham explodido. O homem mostrou sua adaptabilidade a uma área geologicamente tensa, no que foi possível. E podem apostar que esse povo dedicado não vai se resignar. Eles vão pedir a ajuda dos deuses e seguirão adiante. Talvez até considerem que a desgraça tinha que vir, que tinha de ser assim. Mas, mais uma vez, duvido que algum deles pense que "o homem não deve desafiar as leis divinas" e deve se resignar à desgraça.
O homem, quando resolve se superar, faz coisas incríveis. Nessas horas ele chega bem perto de ser Deus. Afinal, não foi feito à imagem e semelhança dele? Por que não haveria de fazer prodígios? O ideal seria, na verdade, trabalhar levando em conta Deus/a natureza. Porém, o puro e simples poder de inventar e idealizar tem o poder de nos aproximar deles.
Fora, culpa esmagadora. Não queremos você aqui.
Um comentário:
Realmente, se Deus é realmente cruel como muitos imaginam, então ele seria abominável, Nathalia. Se tudo de mal é culpa dele, pobre de nós mortais. Mas, felizmente a Bíblia esclarece esse assunto, e Ele não é nada disse que pensam. Gostei da sua crônica.
Abraço
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